Depois que o Tiradentes foi executado e teve o seu corpo esquartejado para ser distribuído em Minas, nos locais em que ele fazia a sua pregação revolucionária, nenhuma das partes foi colocada nas Vilas de São José del Rei e de São José (atual Tiradentes) ambas situadas na região onde Joaquim José nasceu.
Se, naquela ocasião, as duas Vilas foram poupadas da contemplação macabra, hoje alguns oportunistas ensaiam a encenação de um espetáculo entristecedor nas duas cidades: disputam a naturalidade do Tiradentes, reivindicando primazias nas comemorações do bi-centenário da morte do Alferes Joaquim José.
Que isso ocorra no âmbito do estudo da história local é perfeitamente compreensível. Ir além é expor-se a um jornalismo sensacionalista que poder levar ao ridículo o esforço edificante daqueles que, nas duas cidades, se empenham, atualmente, em construir um programa comemorativo à altura do evento de 21 de abril.
Afinal, o Tiradentes é tão mineiro nascido em São João quanto em São José. E, há muito, ele não pertence mais só a Minas Gerais. É um patrimônio cívico da nação brasileira. Pertence a todos que, neste momento, querem reverenciá-lo realmente. E não àqueles que pretendem utiliza-lo como objetivo de promoção desta ou daquela cidade.
A tradição de festeja o 21 de abril em Tiradentes, remonta ao tempo em que a cidade ainda se chamava São José. Em 1881, um tiradentino republicano fundou, no Rio de Janeiro, o Clube Tiradentes que incluiu, entre outras finalidades, o compromisso de “comemorar todos os anos o dia 21 de abril”. O Presidente do Clube Tiradentes, Timóteo Antunes, terá estimulado, desde então, em sua terra natal, o gosto por essa comemoração.
No ano da proclamação da República a cidade de São José passou a se chamar Tiradentes por iniciativa da liderança republicana. Daí em diante não mais descuidou de celebrar a data de 21 de abril. Em 1892, os tiradentinos criaram a Sociedade Comemorativa do Centenário de Tiradentes, que erigiu o primeiro monumento à memória do Alferes, na Comarca do Rio das Mortes.
Os festejos do 1º Centenário, em 1892, na cidade de Tiradentes, culminaram com a celebração de uma Missa de Réquiem na Matriz, contrapartida ao Te-Deum que, um século antes, as autoridades portuguesas mandaram celebrar em regozijo pelo fracasso do movimento inconfidente.
Os moradores de São João del Rei identificam-se de tal forma com a iniciativa dos tiradentinos, nas festividades do 1º Centenário, que constava do programa publicado: “haverá trens extraordinários da Estrada de Ferro Oeste de Minas, da cidade de São João del Rei para a de Tiradentes”, de maneira a permitir que sanjoanenses e tiradentinos confraternizassem no dia do herói maior das duas cidades. Um exemplo de ontem a ser lembrado nos dias de hoje, pelos que se preocupam em dividir as duas cidades.
Sócio falecido Yves Alves
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