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Em setembro de 1788, quando no Rio de Janeiro Joaquim José da Silva Xavier encontrou-se com José Álvares Maciel, teve início a Inconfidência Mineira. Álvares Maciel, recém chegado da Europa, onde se formara
Álvares Maciel ressaltou também o exemplo dos norte americanos, que romperam os laços com sua metrópole e instituíram a República ainda em 1776. Na França, em 1786, Thomas Jefferson, então ministro americano e futuro presidente dos Estados Unidos, autor da Declaração da Independência Americana, fora procurado pelo estudante brasileiro José Joaquim da Maia, que buscava apoio dos americanos a um projeto de revolução no Brasil, com o objetivo de obter a independência. Aos europeus, parecia inacreditável que o Brasil ainda se mantivesse submisso a Portugal.
Tudo isto Álvares Maciel contou ao Alferes Tiradentes, que, por sua vez, como profundo conhecedor da realidade degradante imposta aos brasileiros pela Coroa portuguesa, relatou a Maciel toda a situação vivida principalmente em Minas, a galinha dos ovos de ouro que estava sendo asfixiada pela ambição sem limites da Fazenda Real.
Durante o século XVIII, Minas Gerais proporcionou a Portugal cerca de trinta e seis mil arrobas de ouro e mais de trezentas e trinta mil oitavas de diamantes, quase tudo esbanjado na corte luxuosa de D. João V, o novo Rei sol, ou desviado para Inglaterra para o financiamento da Revolução Industrial. Todavia, o solo começara a dar sinais de exaustão, e já não era possível aos mineiros suportarem a exorbitante carga de impostos praticados pela metrópole. Apenas o quinto do ouro, há muito atrasado, acumulava-se em torno de seiscentas arrobas de ouro, e esta dívida estava prestes a ser cobrada, os mineiros pagariam à força, de uma só vez, e de forma indiscriminada, fossem mineradores ou não. Por outro lado, os brasileiros eram preteridos pelos reinóis e por eles humilhados. Ao país era proibido possuir fábricas, indústrias, estradas e escolas, constituindo-se verdadeiro estado de atraso cultural e econômico, em solo tão rico e belo. Relatava emocionado o Alferes.
Daquela conversa saiu a decisão de fazer a revolução. Ambos puseram-se a caminho de Minas. Pelos pousos e fazendas iam semeando a revolta. Falaram a José Ayres Gomes, a Manoel Rodrigues da Costa e, chegando a Vila Rica seduziram ninguém menos que o Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, cunhado de Maciel e comandante da força militar de Minas. O segundo homem mais poderoso da capitania tornara-se inconfidente. Em seguida outros militares, os poetas, os religiosos, os fazendeiros e todos os outros idealistas se agruparam.
A propaganda indiscriminada do Tiradentes atingiu pessoas das mais diversas classes e posições sociais. A coragem do Tiradentes chegava a assustar e causava a admiração de seus próprios companheiros: Seria um herói ou um louco? Muitos aderiram logo, outros, temerosos ou oportunistas, ficaram esperando os resultados, outros ainda, os traidores, trataram de guardar a informação, para usá-la na hora certa. E assim, no curto espaço de seis meses já estava tudo decidido: as leis da nova república, homens, armas e pólvora a serem empregados e quem os forneceria, as providências para a defesa da república novata, as primeiras medidas administrativas, as leis e até a bandeira.
A data da rebelião ficaria condicionada à execução da dívida dos quintos, denominada Derrama, que estava prevista para o início de 1789. No momento certo os combatentes seriam avisados através da senha: Tal dia é o batizado. Tiradentes prenderia o Governador Visconde de Barbacena, Freire de Andrade garantiria a submissão dos Dragões. Seria espetacular o dia da libertação da pátria. O Brasil já não precisava de Portugal e seus déspotas.
Em fevereiro de 1789 todo o projeto dos inconfidentes começou a desmoronar. Tiveram a infeliz idéia de convidar o coronel Joaquim Silvério dos Reis para a causa. Português, e devedor de uma grande quantia aos cofres reais, Silvério viu na traição da conjuração um bom negócio e a 15 de março de 1789 formalizou sua denúncia ao governador de Minas, e logo depois o fez também ao Vice Rei, Luiz de Vasconcelos. Tiradentes foi preso e encarcerado no dia 10 de maio. Em Minas outras prisões e sequestro de bens se sucederam. Delatores, num total de nove, se apresentaram. Dois processos foram abertos, um em Minas e outro no Rio de Janeiro. Cerca de trinta réus foram indiciados. Chefes de família foram arrancados de casa, famílias inteiras foram condenadas à miséria absoluta antes mesmo da condenação. A simples acusação do crime de Crime de Lesa Majestade era grave o suficiente para condenar antes de julgar. Todo o rigor das Ordenações Filipinas seria aplicado nas punições. A excessiva demonstração de força denunciava, na verdade, o medo da monarquia portuguesa diante dos heróis que ousavam enfrenta-la.
No patíbulo, no dia 21 de abril de 1792, Tiradentes pagou com a vida por sua coragem e heroísmo, foi esquartejado e distribuído pelo Caminho Novo, tal qual semente de liberdade lançada no solo de Minas. Outros heróis pagaram no exílio sua ousadia, atormentados pela sorte de suas famílias e de seu país. Cumprida estava a sentença. Saciados estavam os juizes. Vingada estava a rainha. Triunfante saíra Portugal, mas não por muito tempo.
Pouco depois,
(sessão solene do Dia de Tiradentes – 21/04/2010)
Rogério Geraldo de Paiva (IHGT)
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