Deu-se por concluída a restauração da Capela de Santo Antônio do Canjica, localizada no bairro do mesmo nome. Parece tratar-se de uma capela muito antiga, da época do início da mineração, no princípio do século XVIII, embora as primeiras referências a ela date de 1800.
Na ocasião do tombamento do conjunto urbano pelo SPHAN, em 1938, a capela era considerada fora do núcleo urbano e, portanto, não foi protegida pelo tombamento e não teve o tombamento individual, como as outras igrejas e capelas. Passou por grande obra de reforma em 1948, promovida pelo Pe. José Bernardino, quando inclusive foi feita uma parede lateral e construída a torre sineira. Na década de 1970, outra intervenção radical destruiu o trono de Santo Antônio e retirou os ladrilhos do presbitério, colocando uma granitina de cor rosa.
Em 2010 já havia sido substituídas as
telhas do tipo francesa por telha capa e canal, mais condizentes com a ancianidade do templo.
A atual obra foi levada a cabo pelo
Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes, que recebeu o repasse de verba
da prefeitura municipal, originária do ICMS Cultural, após a deliberação do
Conselho de Políticas Culturais e Patrimoniais. Outras ações foram feitas como
a nova instalação elétrica da Igreja do Rosário; compra de extintores de
incêndio para os monumentos; obra de manutenção e conservação do Chafariz e restauração da imagem de São José; restauração do oratório do IHGT, que pertenceu a
sala de Juri do antigo Fórum de Tiradentes, entre outras.
Na Capela de Santo Antônio do Canjica foi feita a rebocação dos muros divisórios e a pintura em cor branca. Toda a pintura externa da capela foi feita repetindo as mesmas cores pintadas em 2010 (em branco com esquadrias em azul, as folhas das portas vermelhas e os cunhais e relevos em ocre), mas muito mais vivas. Foram removidas as campanas dos alto falantes fixadas na cúpula da capela e, também, o poste de cimento no adro.
As esquadrias passaram por obra de
restauração e/ou substituição: a porta principal foi restaurada com a correção
e aplicação de almofadas como na original, retiradas nos anos de 1980; as
vistas do portal foram substituídas por mais largas (e mais condizentes com o
original). O cimento da soleira foi retirado e os socos colados e lavados. A porta lateral teve que ser totalmente substituída, tanto o aro quanto a folha e ferragens; as outras portas
foram mantidas, mas com a introdução de vistas mais largas nos portais; uma
pequena janela do cômodo do som foi eliminada. Nos dois óculos da fachada foram
colocados caixilhos e vidros, assim como foi substituída uma janela de ferro
(na torre) por vidraça com caixilhos de madeira; por trás do sino foi colocado
caixilho para impedir a entrada de pássaros. Ainda foi colocada uma porta no
acesso ao coro e sino, onde havia uma porteirinha colocada nos anos 1980.
Internamente, manteve-se o piso de
lajotas de cerâmica colocado na sacristia em 2010, sendo substituídos o piso da nave, que era de tacos, e do presbitério, que era de granitina rosa, da década de 1970. Optou-se por colocar
um belo assoalho de peroba do campo, inclusive corrigindo a altura do presbitério. Quando
se quebrou o presbitério, foram encontrados os furos na taipa, onde se
encaixavam os barrotes.
O forro da sacristia foi substituído por
outro, igual de saia-e-camisa, e a madeira retirada foi aproveitada na
composição de um forro para cobrir a laje de cimento do coro, que teve também a
viga revestida por madeira. A balaustrada do coro foi desmontada, restaurada,
removida a pintura e encerada. Foram ainda inseridos dois balaústres faltantes,
encontrados no depósito da igreja da Matriz. Foram feitas novas emendas no
parapeito e fixação com chapas de ferro. O sino foi limpo e pintado.
Mas a maior intervenção foi, sem dúvida, a reconstituição do altar e trono de Santo Antônio, obra que não estava no escopo, mas que teve verba liberada pelo prefeito José Antônio, depois de ser solicitada por mim. O altar de Santo Antônio, modesto e simples, foi demolido por volta de 1972/73, em obra promovida pela comissão da festa e pelo vigário, Padre Lourival Salvo Rios. Foram totalmente retirados a banqueta e o trono em degraus escalonados, ficando apenas a mesa do altar e duas peanhas entalhadas, que guardavam as cores verde, vermelho e ouro. O altar foi posteriormente destruído e substituído por mesa pequena e depois por um altar de angelim almofadado.
A reconstrução do altar era um sonho
antigo que agora realizamos. Como não se encontraram fotografias do interior, o
trono e altar foram projetados pelo restaurador Cristiano Felipe Ribeiro a
partir de minha memória e de croquis que fiz.
Houve pequenas mudanças em relação ao
original, pois foi introduzido um sacrário que
não havia no antigo altar. O degrau avançado, onde ficava a imagem de São João de Deus, e que era sustentado por mão francesa e com lambrequins, foi eliminado e colocado uma base avançada
para se colocar o crucifixo e a imagem de São João de Deus foi para a peanha lateral. O altar
foi pintado nas cores verde e vermelho com filetes dourados, como no original.
As duas peanhas entalhadas foram restauradas e recolocadas aos lados do trono.
Para fazer simetria com o São João de Deus,
foi adquirida pela paróquia uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, uma vez
que a pequenina original encontra-se na vitrine do Museu da Liturgia.
As imagens de Santo Antônio, São João de
Deus, o crucifixo e uma pequena Santana de gesso oco foram restauradas. O São João de
Deus ganhou novas vestes. Os castiçais originais estão expostos no museu, então
como encontramos dois novos entalhados por Rondinely Santos, mandamos fazer mais dois que foram pintados de vermelho e dourado formando uma banqueta.
Na porta do sacrário foi colocado um cálice com hóstia, obra do Rondinely. Foi
ainda restaurado o oratório da sacristia, onde infelizmente não se encontrou
outra pintura, manteve-se a atual. Foi, ainda, pintada nas cores do altar uma
credência, já existente, e reformado o ambão com pintura semelhante ao altar. Foi
feita nova instalação elétrica e nova iluminação, com colocação de projetores e
arandelas de madeira pintada.
O cruzeiro externo, que estava muito
danificado, com perda de vários elementos, como era peça relativamente recente,
optamos por fazer um novo, realizado pelo Dinho Souza, com todos os
instrumentos da paixão. Foi colocada iluminação na cruz, cruzeiro e sineira,
que fica ligada à noite, e holofotes na fachada, para os dias de culto e festa.
Foram restaurados os bancos antigos, sem
encosto, e refeito um banco de encosto, do qual encontramos apenas algumas
tábuas.
A pedra dara foi
higienizada e sua capa de linho foi substituído. Ainda pretendemos fazer nova
estante de altar, copiando a que se encontra no museu. A pia de água benta foi higienizada e encerada.
A obra foi feita com muito cuidado, dentro das possibilidades e do orçamento apertado. Ficará para o próximo ano a substituição do forro da nave, que atualmente é de tabuas estreitas; o revestimento do piso do coro e escada com madeira; a substituição da grade do adro, eliminando a mureta que quebra a visão da capela; e a melhora do depósito, com colocação de forro, piso e instalação elétrica, além de melhor solução para os banheiros.
Logo após o Natal, dia 29 de dezembro, a capela será
entregue à paróquia e novo altar será benzido pelo nosso bispo
diocesano, D. José Eudes Campos, abrindo, assim, o templo novamente ao culto e à
visitação dos fiéis.
Agradecemos, portando, à prefeitura
municipal, através do prefeito José Antônio e do secretário Henrique Rohrmann;
ao Conselho de Políticas Culturais e Patrimônio; ao Padre Alisson André
Sacramento; ao restaurador Cristiano Felipe Ribeiro e a toda equipe, principalmente
ao marceneiro Dinho Souza, que executou o altar, assoalho e portas, e ao Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes na pessoa do seu presidente Rogério Almeida.
Que Santo Antônio abençoe a todos, pois
lembramos que, antigamente, era comum os
pedidos e promessas ao Santo Antônio do Canjica, como testemunham os antigos ex-votos que
existiam na Capela, hoje recolhidos no Museu da Liturgia.
Viva Santo Antônio, viva nosso
patrimônio.
Texto de Olinto Rodrigues dos Santos Filho
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