8.10.06

A Inconfidência Mineira e a Cidade de Tiradentes



A Vila de São José del Rei, atual cidade de Tiradentes, foi, no século XVIII, um dos mais importantes centros urbanos de Minas Gerais. Sua participação na Inconfidência Mineira foi das mais relevantes. O Vigário Pe. Carlos Toledo, em dos mais ativos dos conspiradores, era homem de cultura e sua biblioteca, embora inferior à do cônego Luís Vieira da Silva, destacava-se pelo número de dicionários, pelos volumes de Gramática, pelas obras de Direito, Teologia, História Sagrada, Moral e clássicos em geral. Pe. Carlos de Toledo portou-se, nos interrogatórios, com uma dignidade só superada por Tiradentes. Pe. Toledo foi o único, além do Alferes, que não procurou incriminar os companheiros de infortúnio. Ainda tentou quando pôde despistar os inquiridores.

Luis Vás de Toledo Piza, Irmão do Pe. Carlos, era Sargento-mor do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de São José, onde exercia o cargo de Juiz de Órfãos. Foi um dos onze réus condenados à morte, na primeira sentença e, na Segunda, a degredo perpétuo.

José de Resende Costa, pai, e José de Resende Costa, filho, moravam no arraial da Laje (atual cidade de Resende Costa), então no termo da Vila de São José. Ambos foram condenados à morte na primeira sentença e, na Segunda, a degredo por dez anos.

Vitoriano Gonçalves Veloso, natural da Vila de São José, era Alferes do Regime dos Parodos. Desenvolveu notável atividade, depois da prisão de Tiradentes, a levar avisos aos demais inconfidentes da prisão do Alferes. Foi condenado e degredo por dez anos.

João Dias da Mota era Capitão do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de São José. Morava no Engenho do Campo, pertinho da Vila. Foi condenado a dez anos de degredo, na primeira sentença, pena confirmada na Segunda.

Francisco Antônio de Oliveira Lopes morava na sua fazenda da Ponta do Morro. Herculano Veloso equivocou-se ao supor que o nome primitivo da Vila de São José fora Ponta do Morro. Ora, fundado o arraial de Santo Antônio, que fora elevado a Vila com o nome de São José del Rei, continuou a existir a Ponta do Morro, então no termo da Vila.

Francisco Antônio de Oliveira Lopes era Coronel do Regimento de Cavalaria Auxiliar de São José, foi condenada à morte na primeira sentença e, na segunda, a degredo perpétuo.

Da. Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, mulher de Francisco Antônio de Oliveira Lopes, bem mais inteligente e mais instruída que o marido, foi quem escreveu os bilhetes aos inconfidentes, com o aviso da prisão de Tiradentes. O Dr. Tarquínio J. Barbosa de Oliveira a considerava a grande heroína da Inconfidência Mineira. Ela nasceu na vila de São José, filha do Capitão-mor Pedro Teixeira de Carvalho, nome muito ligado à história da Vila. O Visconde de Barbacena não a e perdoou. Ordenou ao Ouvidor da comarca do Rio das Mortes, Luís Ferreira de Araújo de Azevedo que nos sequestros respeitasse a meação de Da. Bárbara Heliodora, mulher de Alvarenga Peixoto, mas nos do casal Francisco Antônio de Oliveira Lopes – Hipólita Jacinta Teixeira de Melo fosse realizado o sequestro de todos os bens sem respeitar a meação da mulher. Mas Da. Hipólita reagiu, lutou bravamente, digiriu requerimento até a D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, Ministro da Marinha e Ultramar e conseguiu salvar sua meação, ou melhor, o patrimônio que herdara de seu pai, Capitão-mor Pedro Teixeira de Carvalho. No seu testamento, Da. Hipólita determinou a celebração de 200 missas por alma de seus pais, 150 missas por alma de seu marido, alforriou mais de um dezena de escravos e, para alguns, ainda deixou dinheiro.

Antônio de Oliveira Lopes era piloto, isto é, medidor de sesmarias, nomeado pela Câmara de São José. Foi condenado na primeira sentença a degredo perpétuo, reduzido a dez anos, na Segunda.

Há ainda a figura de Claro José da Mota, cheia de mistérios, homem que fazia a ligação de Minas com São Paulo. Esse homem desapareceu e, apesar de todas as diligências, não conseguiu ser preso.

Foram 26 os réus condenados pela sentença da Alçada. Desses, dois o foram por denúncia falsa, isto é, nada tinha a ver com a inconfidência Mineira. Foram, portanto, em número de 24 as vítimas do movimento. Desses 24, 13 eram da Comarca do Rio das Mortes. Desses 13, a maioria pertencia à freguesia e termo da Vila de São José. A Vila de São José era, pois, o maior foco conspirador e o mais importante centro da Inconfidência Mineira.

Resta um comentário a respeito do líder do movimento, o proto - mártir da independência. Não pretendemos colocar lenha na polêmica sobre a naturalidade do Alferes Xavier. Queremos apenas transcrever o trecho inicial do testamento feito pelos pais de Tiradentes, em 1751, Domingos da Silva dos Santos e Antônia da Encarnação Xavier. “Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, três Pessoas distintas e um só Deus verdadeiro... no ano do nascimento de N. S. Jesus Cristo, de 1751, em casa de morada de Manuel Goulart, nesta vila de São José, onde nos achamos, Domingos da Silva dos Santos e minha mulher, Antônia da Encarnação Xavier, moradores que somos em Rio Abaixo, no nosso sítio chamado Pombal, freguesia e termo desta vila...”
Waldemar de Almeida Barbosa

A Cidade do Alferes


A mais sentida homenagem que já se tributou ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, entre tantos monumentos e títulos que lhe têm sido atribuídos, ainda é a que nasceu da emoção de Silva Jardim, na aurora da República. Graças ao seu apelo, o terceiro ato assinado pelo primeiro governador republicano de Minas, Cesário Alvim, em 6 de dezembro de 1889, transformou a legendária Vila de São José del Rei em Cidade de Tiradentes.
Dois séculos depois de seu martírio, em meio às lições de liberdade e cidadania legadas pelo precursor da Independência, o grande tributo que continuamos a lhe dever será, certamente, o da preservação e valorização da cidade que ostenta o nome do Tiradentes. Aos pés da Serra de São José, estende-se o santuário cívico em que arte e história guardam a consciência do Brasil.
Conservar Tiradentes não é manter a cidade em redoma que lhe inviabilize o desenvolvimento. Assim como cultuar o Tiradentes não é perder-se numa retórica alheia aos conflitos da realidade brasileira, salvaguardar sua cidade significa apenas respeito aos bens culturais e naturais que a particularizam no elenco de centros urbanos do País.
A ganância e a esperteza de alguns poucos, não podem prevalecer sobre o compromisso nacional do Povo Tiradentino com a defesa de um patrimônio que, pertencendo a cada morador da cidade, é igualmente um parte da alma de todos os brasileiros. Um programa efetivo, nesse sentido, é a homenagem que cabe às gerações deste bicentenário.
Celebramos, aqui, a presença viva do Tiradentes. Joaquim José da Silva Xavier projeta sua herança sua herança em cada trecho da cidade que nos cumpre amar e proteger. O bicentenário do sacrifício do patrono cívico da Nação é um convite à união de todos também em favor da Cidade de Tiradentes. Ela é força espiritual de Minas e do Brasil à espera de nossa consciência.

Ângelo Oswaldo de Araújo Santos

Padre Toledo

Padre Carlos Correia de Toledo e Mello era paulista de Taubaté, nascido em 1731, filho de Timóteo Correa de Toledo e Ursula Isabel de Mello. Dois de seus irmãos foram religiosos, Pe. Bento Cortes de Toledo, seu coadjutor em São José do Rio das Mortes e frei Antônio de S. Vasula Rodovalho, bispo de Angola. Seu pai depois de viúvo tornou-se padre e duas irmãs eram freiras.

Toledo foi nomeado para a paróquia de Santo Antônio da Vila de São José em 1776, assumindo efetivamente em 1777 esta imensa e rentável freguesia. Tentando retomar a capela de São Bento do Tamanduá, hoje Itapecirica, que havia se tornado paróquia, cria imensa confusão, invadindo a igreja e administrando os sacramentos. O caso vai parar na mesa Consciência e Ordens de Lisboa, em alentado processo. Viveu com a família em um palacete, na Vila de São José, situada na Rua do Sol, hoje museu.

A época da Inconfidência o vigário possui a casa na vila de São José com cavalariça, oficinas avaliadas em 3.6000$000 réis; a Fazenda da Laje com casas, moinho e engenho; terras mineiras no Arraial de São Tiago (hoje cidade) em sociedade com Manoel Rodrigues Pacheco de Morais; uma biblioteca com 105 volumes; 31 escravos, dos quais 2 eram músicos. A casa tinha excelente mobiliário como sofás, mesas de jogos, uma cama baldaquino de damasco e cabeceira dourada, cadeiras, mesas, espreguiçadeiras. Na decoração havia um retrato do rei Dom José com dossel vermelho. A sua prataria estava penhorada no cofre dos ausentes da Vila de São José, onde ele tinha tomado empréstimo. Entre os papéis haviam um livro de dividas dos paroquianos.

Toledo foi um dos mais atuantes no malogrado movimento, tendo aliciado mita gente e ido várias vezes a Vila Rica para encontrar os companheiros daquela comarca. Para o levante prometeu mandar 150 homens montados, todos de suas fazendas e minerações.

Toledo convidou para a revolta os Resende Costa, o Cel. Oliveira Lopes e o delator Correia Pamplona.

Quando soube da prisão de Tiradentes em maio, no Rio, tentou levantar os ânimos do Cel. Francisco Antônio, mandou recados a Vila Rica, ao comandante Francisco de Paula que deflagrasse o movimento, fosse como fosse porque “era melhor morrer com a espada na mão que como um carrapato na lama”. Nada conseguiu e foi preso quando fugia para sua fazenda da Laje. Nos interrogatórios tentou ocultar a verdade, mas acabou falando tudo, mas sem acusações, além do Silvério dos Reis. Foi deportado para Portugal sem saber sua sentença, ficando preso na Fortaleza de São Julião da Barra e depois levado para a clausura dos franciscanos de Lisboa, onde hoje é a Academia de Belas Artes da Universidade de Lisboa e lá faleceu em 1803. Na Vila de São José se celebrou as missas de costume por sua alma.

Os Delatores




Joaquim Silvério dos Reis Montenegro passou à história como principal delator da inconfidência. Era homem abastado, com várias fazendas na região de Barbacena, contratador de entradas e grande devedor à coroa. Após a inconfidência não teve sossego pois o povo o perseguia. Em 1790 sofreu um atentado a bala no Rio de Janeiro. Viu um homem ser espancado em frente a sua casa, confundido com ele, tentaram incendiar seus armazéns. O povo o insultava na rua. Declarou que não podia viver em minas. Foi para Portugal, depois voltou ao Brasil, para morar em São Luiz do maranhão, onde morreu.
Inácio Correia Pamplona era um grande fazendeiro e desbravador do sertão do triângulo mineiro, terrível Capitão do mato, vivia em sua fazenda do Mendanha, em Lagoa Dourada. Depois de denunciar a inconfidência, não recebeu regalia alguma e em seu testamento reclama do Visconde de Barbacena e declara textualmente em 1806 que “ Pelo ódio que todo o povo me tem, parece-me que hei de morrer assassinado...” e sei que meu filho mesmo, depois de visto este testamento, maior há de ser ódio que todo o povo do Brasil lhe há de Ter, só por ser filho de tal pai...”

São José del Rei: República e Tiradentes



Foi na Vila de São José, nome dado em homenagem ao infante D. José, que nasceu, em 1746, Joaquim José da Silva Xavier. O pai de Joaquim José era o português Domingos da Silva Santos, estabelecido na região há bom tempo, tendo exercido cargos públicos como vereador no Senado da Câmara e Almotacel.
Este Domingos foi casado com Antônia da Encarnação Xavier. O casamento ocorreu na Matriz de Santo Antônio da Vila de S. José, em 30 de junho de 1738. Antônia da Encarnação, nascida em 1721, na mesma vila, era filha de Domingos Xavier Fernandes, um dos primeiros habitantes do Arraial Velho do Rio das Mortes.
Joaquim José vai se tornar o conhecido alferes Tiradentes, depois de muitas andanças por Minas e Rio. Progador das idéias da Conjuração Mineira, intentada pela intelectualidade e fazendeiros – mineradores das comarcas de Vila Rica e Rio das Mortes. Apaixonado pelas idéias de liberdade da pátria mineira, o alferes tornou-se figura impar dentro do movimento, inspirado nas idéias iluministas francesas, sonhava com a república e trazia consigo uma tradução francesa de uma coletânea das leis das colônias inglesas na América do Norte. Debelado o movimento, presos os acusados, processados e mofando nos cárceres da Ilha das Cobras, durante três anos, o Tiradentes chama para si, nos depoimentos, a responsabilidade maior do malogrado levante, eximindo Tomás Antônio Gonzaga, que dizem tratavam das leis da nova nação. Na Segunda metade do século XIX, já no reinado do nosso Pedro II, o historiador Joaquim Norberto de Souza e Silva, faz o primeiro estudo sobre a Inconfidência Mineira e o Tiradentes, muito sob a visão de monarquista e sem querer desagradar o seu imperador, homem querer desagradar o seu imperador, homem pacato e amigo da intelectualidade.
Com a fundação em 1870, no Rio de Janeiro, do partido Republicano, lançando o manifesto republicano, inicia-se efetivamente a propaganda da república. Lança o jornal “A República” e muitos dos históricos defensores daquele ideal se agregam em torno dele. É aqui que a figura ímpar de Joaquim José da Silva Xavier desponta irreversivelmente como herói nacional, símbolo e precursor do ideal republicano.
Em 1872 o Dr. Pedro Bandeira de Gouvêa lança na imprensa carioca uma campanha para erigir um estátua ao herói. Abre-se uma subscrição popular. A iniciativa de Bandeira Gouvêa é atacada com ímpeto por Joaquim Noberto e segue-se uma polêmica na imprensa da época. Bandeira Gouvêa reúne artigos num opúsculo publicano no mesmo ano.
Neste final de século XIX, o abolicionista e republicano Angelo Agostini, imigrante italiano, mas comprometido com as idéias de liberdade brasileira, desenha e faz publicar a primeira representação do Tiradentes. Como não havia registro algum da figura do herói mineiro, Agostini idealiza uma figura do herói mineiro, Agostini idealiza uma figura de cabelos e barba longos lembrando a figura de Cristo, imagem que se vai multiplicar e persistir até os dias atuais, embora de longe não corresponda à realidade dos costumes e usos dos fins do século XVIII.
Em 21 de abril de 1881, um grupo de republicanos funda no Rio de Janeiro o “Clube Tiradentes”, sob a direção de Antunes, natural de S. José del Rei, de longa duração, que além de divulgar o ideal republicano, cultuava a memória do mineiro ilustre.
Ainda na década de 1880, um grupo de republicanos ligados ao Clube Tiradentes, viaja a Minas e faz uma “romaria cívica” à terra do herói. Estes republicanos vêm encontrar na Velha Cidade de S. José del Rei, a casa do vigário Pe. Carlos Corrêa de Toledo e Melo, um dos inconfidentes, que àquela época acreditava-se tratar da casa do próprio Tiradentes.
Ali, os republicanos fizeram Sessão Cívica em louvor ao Tiradentes e pregaram o advento da república. Ainda neste período, imediatamente anterior à proclamação da República, o grupo de propagandista do novo regime descobriu no Cartório de S. José del Rei, o inventário dos bens dos pais do Tiradentes, documento posteriormente extraviado, e hoje no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Este documento veio a estabelecer o local do nascimento do herói em São José del Rei. No ano de 1889, Dr. Sampaio Ferras, profere uma conferência no aniversário da morte do Tiradentes, como noticiou o jornal republicano “Pátria Mineira” de S. João del Rei, no seu número inaugural do referido ano. A nota publicada no jornal diz sobre a casa do Pe. Toledo, o seguinte: “esta casa costuma ser visitada nestes dias pelas pessoas que veneram a memória gloriosa dos inconfidentes, e nela já se tem celebrado sessões comemorativas do aniversário do proto-Martyr”.
No dia 23 de abril de 1889, Silva Jardim, o líder republicano mais exaltado e que acreditava no advento do novo regime através da mobilização popular, em visita a São João del Rei, tentou falar ao povo e foi agredido com pedradas, no Grande Hotel, onde se hospedava. Neste mesmo dia, Silva Jardim chega a Estação de São José del Rei (hoje Tiradentes) pelo trem da Estrada de Ferro Oeste de Minas e lá mesmo faz um inflamado discurso republicano, em que sugeriu que o nome da terra natal de Joaquim José da Silva Xavier fosse mudado de São José del Rei, que lembravam o nome de um rei português, para Tiradentes, em homenagem ao maior herói da nação.
Com os acontecimentos dos dias 15 e 16 de novembro de 1889, que tornaram realidade a República, não pela ação popular, mas pela mão dos militares descontentes, a província de Minas torna-se Estado da Federação. Coube ao segundo governador provisório do Estado, o Dr. José Cesário de Faria Alvim, assinar o ato número 03, datado de 6 de dezembro de 1889, que mudou o nome de São José del Rei para Tiradentes, propulsionado pelo ilustre estadista mineiro Dr. João Pinheiro da Silva Jardim no início do ano. O ofício que comunica o aludido ato ao presidente da Câmara, o Barão de Itapicirica, é o seguinte: “Comunico, para Vosso conhecimento a fim de que torneis público por editaes, que por ato desta data, determinei que essa cidade e município passe a ter a denominação Cidade e município de Tiradentes. Saúde e fraternidade. José Cesário de Faria Alvim”.
Só no dia 28 de dezembro de 89 que o presidente da Câmara Municipal expede edital comunicando a substituição do nome da cidade e vai aparecer na imprensa sanjoanense em janeiro de 1890. “O Pátria Mineira” publica o edital nos números 34, 35 e 36 do referido ano de 90.
É na cidade de Tiradentes que, em junho de 1890, o Clube Republicano local, apresenta proposta aos membros dos Conselho da Intendência para a mudança dos nomes das ruas centrais para os nomes dos inconfidentes como: Rua de Cima para Rua Padre Toledo; Rua das Forras para Resende Costa; Largo das Forras para Inconfidência; Largo do Passo (Largo do Ó) para Vitoriano Veloso.
Em 1892, organiza-se com entusiasmo na cidade a Sociedade Comemorativa do Centenário do Tiradentes, capitaneada pelo comendador Assis, seguido do promotor público da recém criada comarca, o Sr. Presalindo Lery dos Santos.
Em 1932 a prefeitura local resolveu reformar o monumento e encomendou ao artista popular Antônio Gomes um busto de Tiradentes, que substituiu a urna funerária existente na coluna, e ainda foram, acrescentadas 16 rosetas nas faces das bases. Em 1942 colocou-se uma efígie do mártir em uma das faces do monumento, por ocasião da primeira jornada do Fogo Cívico da Pátria.
A festa que se realizou no dia do centenário da morte de Tiradentes foi muito concorrida e divulgada na imprensa sanjoanense e no “Minas Gerais”.


Olinto Rodrigues dos Santos Filho
Pesquisador do IBPC, Sócio do IHGT e Presidente da SAT.

22.8.06

Pelo Amor de Deus, não esquartejem o Tiradentes outra vez



Depois que o Tiradentes foi executado e teve o seu corpo esquartejado para ser distribuído em Minas, nos locais em que ele fazia a sua pregação revolucionária, nenhuma das partes foi colocada nas Vilas de São José del Rei e de São José (atual Tiradentes) ambas situadas na região onde Joaquim José nasceu.
Se, naquela ocasião, as duas Vilas foram poupadas da contemplação macabra, hoje alguns oportunistas ensaiam a encenação de um espetáculo entristecedor nas duas cidades: disputam a naturalidade do Tiradentes, reivindicando primazias nas comemorações do bi-centenário da morte do Alferes Joaquim José.
Que isso ocorra no âmbito do estudo da história local é perfeitamente compreensível. Ir além é expor-se a um jornalismo sensacionalista que poder levar ao ridículo o esforço edificante daqueles que, nas duas cidades, se empenham, atualmente, em construir um programa comemorativo à altura do evento de 21 de abril.
Afinal, o Tiradentes é tão mineiro nascido em São João quanto em São José. E, há muito, ele não pertence mais só a Minas Gerais. É um patrimônio cívico da nação brasileira. Pertence a todos que, neste momento, querem reverenciá-lo realmente. E não àqueles que pretendem utiliza-lo como objetivo de promoção desta ou daquela cidade.
A tradição de festeja o 21 de abril em Tiradentes, remonta ao tempo em que a cidade ainda se chamava São José. Em 1881, um tiradentino republicano fundou, no Rio de Janeiro, o Clube Tiradentes que incluiu, entre outras finalidades, o compromisso de “comemorar todos os anos o dia 21 de abril”. O Presidente do Clube Tiradentes, Timóteo Antunes, terá estimulado, desde então, em sua terra natal, o gosto por essa comemoração.
No ano da proclamação da República a cidade de São José passou a se chamar Tiradentes por iniciativa da liderança republicana. Daí em diante não mais descuidou de celebrar a data de 21 de abril. Em 1892, os tiradentinos criaram a Sociedade Comemorativa do Centenário de Tiradentes, que erigiu o primeiro monumento à memória do Alferes, na Comarca do Rio das Mortes.
Os festejos do 1º Centenário, em 1892, na cidade de Tiradentes, culminaram com a celebração de uma Missa de Réquiem na Matriz, contrapartida ao Te-Deum que, um século antes, as autoridades portuguesas mandaram celebrar em regozijo pelo fracasso do movimento inconfidente.
Os moradores de São João del Rei identificam-se de tal forma com a iniciativa dos tiradentinos, nas festividades do 1º Centenário, que constava do programa publicado: “haverá trens extraordinários da Estrada de Ferro Oeste de Minas, da cidade de São João del Rei para a de Tiradentes”, de maneira a permitir que sanjoanenses e tiradentinos confraternizassem no dia do herói maior das duas cidades. Um exemplo de ontem a ser lembrado nos dias de hoje, pelos que se preocupam em dividir as duas cidades.


Sócio falecido Yves Alves

21.7.06

D. Pedro Regressa



No último dia 25 de maio regressou a cidade o retrato do Imperador D. Pedro II, que fica exposto no Museu Padre Toledo. A peça de arte pertence a prefeitura municipal está cedida a Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade, responsável pelo Museu desde 1971. A tela e sua moldura foram submetidos a restauração no CECOR (Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis) da UFMG. A restauração foi realizada durante o curso de especialização em restauração, fazendo parte do trabalho didático desenvolvido por aquela instituição. Ao fim do serviço, o aluno que trabalha na peça apresenta uma monografia, com prova final do curso, que é avaliado por uma banca de docentes.

Retrato

Um costume vindo dos tempos antigos, ainda hoje mantido é a colocação do retrato do governante nos salões principais dos prédios públicos. Em sessão de 15 de maio de 1839 a Câmara de São José del Rei mandou pagar ao Alferes José Moreira Coelho o que este gastou em mandar executar um retrato do Imperador Pedro II, que naquele ano ainda não tinha completado 15 anos e não tinha sido coroado. O retrato seria colocado na sala de sessões. Era procurador da instituição na época Carlos José de Assis, depois comendador. O senhor Coelho encomendou ao pintor acadêmico Manoel de Araújo Porto Alegre, discípulo de Debret e presidente da Imperial Academia de Belas Artes. A obra que custou 150$000 (Cento e Cinqüenta Mil Reis), as despesas ainda incluiu um caixão que veio o mesmo, no valor de 2$000 e condução do Rio a São José 2$600.

O retrato substituiu o do primeiro Imperador, pintado anos antes por Manoel Vitor de Jesus. O curioso é que a Câmara resolveu utilizar uma moldura que pertenceu ao retrato de D. José I (1755-1777) para colocar o novo retrato.

Trata-se de uma magnífica moldura verde e dourada em estilo rococó com largas talhas em concheados a toda a volta, feita em cedro, datável por volta de 1770.

Esta importante peça de arte e antiguidade, é talvez, junto com o tinteiro de prata as únicas peças remanescentes do antigo senado da câmara e por isto propusemos no Conselho Municipal de Patrimônio, o seu tombamento em nível municipal.

Olinto Rodrigues dos Santos Filho

17.7.06

Um breve histórico sobre o IHGT

O Instituto Histórico e Geográfico da cidade de Tiradentes foi criado em 19 de janeiro de 1977, sendo Prefeito Municipal o Dr. Josafá Pereira Filho, que o fez nos decreto municipal nº200, tendo sido posteriormente tornado-se entidade autônoma, com a aprovação dos estatutos sociais. A criação do IHGT, teve parecer favorável do Conselho Federal de Cultura em 16 de setembro de 1976 (parecer 2.230). Foi declarado de utilidade pública municipal por lei nº374 de 15/12/1977 e estadual através da lei nº11. 764 de 17/01/1993. Tem como objetivo estudar a história local, proteger o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, geográfico e cultural da região do Rio das Mortes. Nos quase 30 anos de atividades, mantém reunião ordinária mensal no 3º domingo de cada mês e sessões solenes anualmente em 19 de janeiro e 21 de abril. Promove concursos histórico-literários, exposições de arte e documentos, seminários sobre história local, além do regate dos acervos documentais ligadas a história local. Funciona em sala do “Sobrado Ramalho”, imóvel pertencente ao IPHAN, cedida para tal fim, possui uma pequena biblioteca, arquivo da coletoria estadual (1890-19720, arquivo de fotografias. Obras de arte como o quadro representando a Justiça, Deusa Astréia de Manoel Victor de Jesus, datada de 1824, Cabeça de Tiradentes de Alberto Delpino, datada de 1894, um oratório com crucifixo, provenientes da sala de júri do fórum de Tiradentes. A mesa de reuniões também provem do antigo Fórum e data de 1890. O IHGT tem 27 cadeiras de sócios efetivos, 50 de correspondentes e 20 de honorários.
Olinto Rodrigues dos Santos Filho