27.7.12

Lançamento de Livro





           



Foi Lançado, em 24 de julho de 2012, na sede do IPHAN, em Brasília, 11 livros editados pelo programa Monumenta/IPHAN. Entre eles, foram lançados os livros “A Matriz de Santo Antônio em Tiradentes”, de Olinto Rodrigues dos Santos Filho, e o Roteiro “Barroco e Rococó nas Igrejas de São João del Rei e Tiradentes”, de Miram A. Ribeiro de Oliveira e Olinto R. do Santos Filho, ambos sócios do IHGT. 


Da esquerda: Olinto Rodrigues dos S. Filho; Luis Fernando de Almeida, presidente
 do IPHAN; e Ana de Holanda, ministra da Cultura. Foto de Núbia Selem.


9.7.12

Um ilustre Tiradentino esquecido



Fotografia da déc. de 20, acervo de Joaquim Ramalho Filho.



Nem sempre as pessoas que tiveram real importância na vida e por isso merecem ser lembradas, o são. É o caso de um tiradentino que nem sequer tem uma rua com seu nome ou uma mísera lápide para que sua memória seja perpetuada. Falo de POLICARPO ROCHA, nome que não é conhecido das novas gerações. Policarpo Rocha nasceu nesta cidade de Tiradentes em 1860, de uma família oriunda do Bichinho. Era filho de outro Policarpo Rocha. Parece que, ainda jovem, mudou-se para Carandaí, naquele tempo, ainda distrito de Tiradentes, e lá se estabeleceu com negócio de cal. A cal, naquela época, era um grande negócio, pois a ainda não se usava o cimento nas construções e a cal era fundamental.

Policarpo não se esqueceu de sua terra natal. Contribuiu para a obra de acabamento da Igreja da Santíssima trindade, nos fins do séc. XIX e início do XX, para a reforma feita da Igreja Matriz, em 1893, e, nos anos 20, para a reforma do telhado da Igreja do Rosário e da Igreja de São João Evangelista.

Mas o que hoje nos espanta é o fato de ele ter comprado, em 1907, a casa que pertenceu ao inconfidente Pe. Carlos Correa de Toledo e Melo, que se acreditava ser a Casa do “Tiradentes” e que se encontrava abandonada após ter servido de moradia do Juiz da Comarca, Dr. Edmundo Lins.

Seguramente, a casa do Pe. Toledo era a melhor construção da cidade e uma das mais importantes construções civis do período colonial com cerca de quatorze cômodos e onze forros decorados com pinturas. Custou o imóvel 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis). Dez anos depois, em 1917, o capitão Policarpo Rocha faz doação do referido imóvel à Câmara Municipal através de escritura pública passada no cartório do 1º ofício, avaliado, naquele momento, em um conto e oitocentos mil réis, para que a Câmara fizesse dele “o uso que lhe convier”.

É um fato notório alguém doar ao poder público um imóvel de tamanha importância. Normalmente, o que se vê atualmente é o contrário, os particulares espoliando os bens públicos como, alias, aconteceu em Tiradentes, onde o Estado doou a Cadeia Pública e a antiga Casa da Câmara e Fórum para a uma Fundação privada. Após a doação de Policarpo, a Casa do Pe. Toledo foi Reformada e para lá se transferiu a Câmara. Ainda na década de 1920, as salas frontais foram transformadas em auditório para teatro e cinema. Em 1930, lá passou a funcionar, além da câmara, a sede da recém criada Prefeitura até que foi cedida para a instalação do seminário Diocesano São Tiago, aberto em 1962.

Havia antigamente, na sala de sessão da Câmara, um grande retrato de Policarpo Rocha, como, também, na Matriz e na Igreja do Rosário. Ainda existe um na Igreja de São João Evangelista e outro no Santuário da Santíssima Trindade, que hoje foi retirado da Sacristia, onde sempre esteve, e colocado junto aos ex-votos. 

O capitão Policarpo Rocha faleceu na década de 40 e ninguém de sua família reside na cidade. Fica aqui uma sugestão para que a Câmara lhe preste uma homenagem recolocando seu retrato na sala de sessões e, talvez, denominando uma rua com seu nome, para que sua memória seja perpetuada como grande benfeitor da nossa querida Tiradentes.

Texto de Olinto Rodrigues dos Santos Filho, sócio do IHGT, publicado originalmente no jornal “Inconfidências”, 
da Sociedade Amigos de Tiradentes, ano 4 – 1999, nº 26.




3.7.12

Vicente Velloso – Bolas Pelotas



fotografia publicada na revista O Cruzeiro, 1967


Vicente de Paula Velloso nasceu em nove de setembro de 1889, nos últimos dias do império. Era filho de Dona Maria José Velloso, a “Sá Cota Velloso”, zeladora apaixonada da matriz de Tiradentes, e de Francisco Joaquim Ribeiro. Ainda cedo, o menino ingressou no seminário de Mariana, influenciado pela fé de sua mãe, do irmão Pe. João Teodorico e do padrinho Pe. João Batista da Fonseca. 

 No seminário, adquiriu vasto conhecimento, pois era homem de rara inteligência. Sentindo não ter vocação sacerdotal, abandona o seminário e volta para Tiradentes, assumindo, no início do século, o cargo de contador e distribuidor do fórum de Tiradentes, no qual se aposentou. A demência o atacou ainda com pouca idade. Contava-se que foi por uma desilusão amorosa, uma paixão por uma certa Alice, que durou até o fim da vida. 

 Vicente Velloso estudou música com outros irmãos na escola do Clube Euterpe Tiradentino, aberta em 1896, tornando-se exímio músico e compositor, tendo legado à posterioridade um belo “Tatum Ergo” para a Benção do Santíssimo e um hino a Santo Antônio “Ó Língua Bedicta”, cujos originais estão guardados no arquivo da Orquestra Ramalho. 

 Com suas longas barbas grisalhas, um surrado sobretudo cinza e um bastão, a figura do ancião impressionava a todos e assustava as crianças do nosso tempo. Vicente Velloso era conhecido pelo apelido de “Bolas Pelotas”, que ele odiava. Contava-se que com a demência ele certa vez ouviu o nome da cidade de Pelotas-RS e passou a murmurar pelas ruas: “- Ora, como pode uma cidade chamar-se Pelotas... ora bolas Pelotas...” Daí o apelido, gritado pelas crianças, pelas ruas da cidade. Trazia o velho Velloso sempre um terço na mão, a murmurar pelas ruas palavras em latim, sempre perambulando ou sentado no adro da matriz, posando para pintores ou assustando crianças. 

 A figura inesquecível de nossos tempos de criança deixou o mundo no dia cinco de agosto de 1968, de “moléstia do coração”, solteiro, na residência de sua família à Rua Frei Velloso, 186, hoje Rua Santíssima Trindade. Olinto Rodrigues dos Santos Filho, sócio do IHGT.


Cartão de visita, 1928, com bilhete ao maestro Joaquim Ramalho