29.6.17

Lançamento do livro o Minho e Minas Gerais no Século XVIII







 O Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes e o autor convidam para o lançamento do livro “Minho e Minas Gerais” de Eduardo Pires de Oliveira, no dia 22 de Julho de 2017, às 19:30, no sobrado Ramalho, à rua da Câmara, n° 124, centro, em Tiradentes.
O livro versa sobre as relações artísticas entre Minas Gerais e província portuguesa do Minho no período colonial.
Participarão da Mesa a Prof.: Myriam Ribeiro de Oliveira e Olinto Rodrigues dos Santos.

Reflexos da arquitetura eclética na cidade de Tiradentes



Autor: Olinto Rodrigues dos Santos Filho
Embora grande parte ou a maioria esmagadora das construções do núcleo histórico de Tiradentes date do século XVIII e XIX, algumas casas setecentistas ou oitocentistas passaram por reformas superficiais ou uma espécie de “maquilagem” para dar um ar mais atualizado as velhas construções. Em sua maioria acrescentou-se uma nova cimalha, sobrevergas alteadas, detalhes de “vistas” das ombreiras e vergas de janelas e portas em argamassa.
Na rua da Câmara podemos citar primeiramente a casa de José Batista de Carvalho - “Sô Zequinha” – que teve a reconstrução de uma cimalha perfilada de gosto eclético (n° 03), a casa de Regina Conceição (n° 16) que teve a altura da fachada aumentada, introdução de faixa decorativa acima das sobrevergas,  porta foi deslocada para a lateral e as quatro janelas da frente tiveram os aros substituídos por modelo mais verticalizado e com sobrevergas alteradas, com detalhe de argamassa. Possivelmente foi aumentado um vão. Hoje o telhado e fachada foram novamente rebaixados.
 


Ainda na mesma rua, (número 08), o caso mais radical é da casa de Joaquinzinho Ramalho, em que todos os aros de portas e janelas foram retirados e introduzidos guarnições internas, sendo a frente preenchidas com “vistas” de massa apresentando detalhes ecléticos. As folhas das portas e janelas foram substituídas por portas do tipo calha usual no século XIX e início do XX. Foi ainda introduzida uma cimalha perfilada, muito detalhada assim como os cunhais vazados. É curioso que a porta secundaria que dá para rua Padre Toledo continua original, de saia-camisa, com socos de pedra e portais maciços.

A casa de Vicente Guerra, (número 58), passou por reforma nos cunhais e a beira seveira foi substituída por uma cimalha perfilada. 

Na rua Direita, número 40 a casa, teve sua fachada reformada na década de 1910/20, mas manteve as janelas e portas antigas, só acrescentando sobrevergas alteadas e introduzindo cimalha perfilada de gosto eclético.

 
Em 1921, foi construída sobre alicerces antigos uma pequena oficina de ourives de Galdino Rocha, com fachada de gosto eclético, duas janelas frontais e entrada lateral. Tanto nos cunhais como nos embasamentos existem almofadas e molduras. As molduras das janelas descrevem losangos. O entablamento em cimalha e pequena moldura sustentam o frontão ou empena, com almofadas, círculo com monograma do proprietário (GR), terminado em curva decorado com três pinhas de cerâmica. É curioso que o telhado continuou em telha canal enquanto a cobertura do frontão é em telha marselhesa. Hoje o sentido da cumeeira foi invertido, ficando paralela a rua.

Ainda na rua Direita, o sobrado que pertenceu a Eloisa Hellow, teve o beiral decorado com lambrequins. Esta casa ruiu na década de 1950 e foi recentemente reconstruída, sendo hoje a Pousada Padre Toledo.


Na rua Padre Toledo, existe um sobrado colonial, de número 76 em que toda fachada foi refeita ao gosto eclético, inclusive com a introdução de um portão lateral de ferro. No térreo e três vãos com verga de volta inteira, com molduras de argamassa. Os vãos se repetem na parte superior com sacadas entaladas com gradil de ferro e uma cimalha muito detalhada coroa a fachada. Internamente manteve-se o aspecto colonial. Nas fachadas laterais foram abertos os vãos de ventilação e iluminação com verga em ângulo agudo, lembrando o neogótico. Esse sobrado que ultimamente pertenceu a Arquiconfraria da Santíssima Trindade era pintado em amarelo com relevos claros e após a última reforma foi pintado de rosa forte, um tanto destoante do conjunto. 

Ainda onde é a pousada Richard, número 124, existiu uma casa mais baixa e menor com entrada lateral e frontão triangular, com molduras de gosto eclético, demolida por volta de 1966, para dar lugar a construção de um pastiche de colonial com águas furtadas e janelões desproporcionais, tudo em cimento. A casa construída por Paulo Boujanic destoa do conjunto urbano, seja pelas aguas furtadas, seja pelas proporções.

Em 1917 a Câmara Municipal de Tiradentes recebeu em doação de Policarpo Rocha, o prédio da casa do Padre Carlos Correia de Toledo Melo (1731/1803) e para lá transferiu a sede da Câmara e Agência Executiva, depois de 1930 a Prefeitura. Lá também se instalou um salão para festas, bailes, teatros e cinema. Nessa época a câmara promoveu uma reforma que na verdade reduziu-se ao sobrado (torreão) construindo um frontão eclético com beirais em lambrequins e agulha central. As janelas foram deslocadas para ficaram equidistantes e introduziu-se vidraças de abrir para fora, com vidros maiores semelhantes a Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). Sobre as janelas do sobrado haviam sobrevergas alteadas, uma cimalhinha delimitando a empena e ao centro um círculo com as iniciais em massa CM (Câmara Municipal). Ainda foi aberto uma porta lateral e construída uma escada em tijoles queimados e cimento, com corrimão de ferro. A entrada da Câmara era independente do cineteatro, que se fazia pela porta original. Foi nesse momento que os paus-a-pique das paredes do sobrado foram substituídos por tijolos maciços e a parte inferior encamisada com os mesmos tijolos. No portão principal à direita foram colocadas compoteiras de cimento sobre os pilares. Sobre cada janela foi colocado um braço de latão com tulipa de vidro para iluminação externa, também foram abertas ventilações sobre o piso feitas com manilhas de cerâmica executadas na Cerâmica Progresso de Alberto Paolucci. O prédio foi pintado de cor próximo ao rosa, com os cunhais, aros das janelas e relevos em branco, para dá um aspecto eclético ao prédio. Em restauração feita pelo SPHAN, em 1944 o prédio voltou a sua feição original.
 


Voltando a rua da Câmara e Chafariz vamos ainda encontrar uma intervenção eclética na fachada do número 88, quando a porta principal foi levada para a lateral e as três janelas tiveram as ombreiras, vergas e peitoris substituídos por molduras de argamassa, com sobrevergas alteadas e construção de cimalha perfilada, obra feita entre 1910 e 1920. 

O número 54 da rua do Chafariz, de fronte para o Largo do Ó, uma casa colonial recebeu tratamento semelhante na fachada, agora com construção de platibanda almofadada e falsos portais de massa sobre os de pedra. Essa casa entrou em ruina e foi reconstruída a partir de croqui feito pelo arquiteto Sylvio de Vasconcellos (1916-1979), então Chefe do 3° Distrito do DPHAN em Minas Gerais e até hoje mantem a fachada fruto da reforma, com exceção das treliças introduzidas nos anos 1980.
 


Realmente construídos em estilo eclético foram o prédio da Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) em 1880/1881; o Chalé do Padre João Batista Fonseca, na atual rua Ministro Gabriel Passos (Praia) e a casa de Estevão Martins, na antiga rua do Areão, atual Inconfidentes n° X.
O chalé do Padre João Batista da Fonseca foi construído nos últimos anos do século XIX, em um grande terreno, “na praia”, antes logradouro público, as margens do Ribeiro Santo Antônio. A planta é simples, descrita em retângulo, com duas salas (visita e jantar) a direita e os quartos a esquerda, tendo aos fundos a cozinha e despensa. A fachada sobre embasamento alto apresenta quatro janelas verticalizadas com detalhes e molduras em argamassa, com vidraças de grandes caixilhos e um frontão triangular tendo no vértice e extremidades agulhas de cerâmica. A entrada se faz pela entrada lateral com degraus de cimento, hoje por pequeno alpendre. A cobertura em duas águas perpendicular à rua é feita com telhas do tipo marselhesa. Internamente a casa tinha assoalhos de pinho de Riga e barrado pintado em marmorizados. Hoje apresenta acréscimo posterior, além do referido alpendre. Havia ainda um velho portão de ferro batido assentado em pilastras de alvenaria e pequena ponte sobre um rego que passava próximo ao portão. O Padre Joao Batista da Fonseca, foi presidente da Câmara e agente executivo em Tiradentes por volta de 1915, quando se inaugurou o abastecimento de agua canalizada na cidade; posteriormente foi capelão da ordem 3° do Carmo de São João Del Rei.

Outro exemplar sobrevivente data de 1925 e foi construído para residência do português Estevão Martins que aqui aportou nos anos de 1920, se casou deixando logo depois a família e retornando a Portugal, segundo dizem, por ter contraído muitas dívidas. A casa passou para domínio de um banco e pertenceu depois a Francisco Lucinda e a seu genro Pedro Ferreira Barbosa, atualmente propriedade de Vanilce Barbosa.


Fotografia de Estevão Martins, 1920, construtor da casa acima, acervo particular
Construída com planta em retângulo perpendicular à rua, assim como a cumeeira sendo a cozinha em corpo anexo, mais baixo. A cobertura em duas águas é de telha do tipo marselhesa, com beirais em ponta de caibros e proteção em tábuas. A entrada se faz por porta lateral acessada por três degraus de cimento em semi-circulo. As janelas laterais verticalizadas perderam-se todas. O que se mantem integro é a fachada com embasamento alto chapiscado, com aberturas de ventilação gradeadas. Dois Cunhais em relevo sustentam a cimalha perfilada, que enquadra quatro janelas verticalizadas, com folhas de calha e caixilhos de guilhotina. As molduras das janelas são de argamassa, com sobrevergas alteadas sobre pequenas mísulas ou modilhões fitomorfos. Sob as janelas aparecem almofadas com as quinas quebradas em quarto de círculo. Sobre a cimalha apoia-se o frontão ou empena curva tripartida decorada com molduras e a coberta de telhas capa e canal, tendo nas extremidades duas pinhas de cerâmica. Ao centro havia uma águia, hoje desaparecida. Ainda no frontão aparecem relevos de balaustres na parte inferior e ao centro com um brasão de armas da república brasileira (estrela com círculo azul ladeadas por ramos de café e fumo. Aos lados eqüidistantes, aparecem as iniciais do construtor E.M. (Estevão Martins) e a data de 1925.
Originalmente havia um portão de ferro lateral, com as mesmas iniciais na parte posterior, assentado em pilastras com dois leõezinhos de cerâmica e a direita um falso portão em cujas colunas haviam pinhas. O interior era assoalhado de tabuas estreitasas (20 ou 25cm) e no hall de entrada, sala frontal e quartos havia uma barrado pintado à imitação de mármores coloridos com desenhos de almofadas.
Hoje a casa acaba de passar por restauração e adaptação para comercio, após longo período de degradação.
Na mesma rua, logo abaixo, no caminho da estação existiu até a década de 1980 a casa de Francisco Ferreira de Morais, o Chico do Cesáreo e de Jeny Morais Batista, onde havia armazém de secos e molhados e casa de vivenda. Esta construção tinha duas portas na frente e uma janela. A entrada da residência fazia-se pela lateral, através de um alpendre com pinturas de paisagem na parede. A janela dava para sala de visitas e as portas para a varanda. A empena da fachada tinha recortes, relevos e almofadas e terminava em curvas com três pinhas de cerâmica. A esquerda ficava o armazém ou deposito de gêneros alimentícios, com telhado paralelo a rua e janelas tradicionais. Tratava-se de uma casa antiga, possivelmente do século XIX que teve a fachada reformada ao gosto dos anos 1920.
A Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) foi construída por volta de 1880, sendo inaugurada em 28 de agosto de 1881. A edificação original era menor que a atual, pois só existia o antigo armazém e a agência que hoje fica no centro do prédio. Os dois cômodos à direita parecem que foram acrescidos ainda no século XIX e a área de cozinha e dispensa (hoje banheiros) já no século XX. O prédio segue o mesmo estilo das estações com telhado em duas aguas com telhas francesas, duas empenas com óculo e cimalhas. Os beirais todos contornados por lambrequins de madeira recortada, hoje em parte perdido. O embasamento em pedra é alto devido as enchentes do Rio das Mortes. Portas e janelas são do tipo calha, com caixilhos de grandes vidros, com molduras de massa no terço superior. Há barrado de chapisco voltado para a plataforma. Esta é acoplada a casa com piso de cimento liso, estrutura de trilhos, telhado em duas aguas, originalmente de telhas de barro francesas, hoje substituído por telhas vermelhas de amianto em losangos imitando telhado de ardósia. Um jardim típico dos anos 1920 foi acrescido ao conjunto. A arquitetura das estações influenciou sobremaneira as reformas e novas construções, com empenas voltadas para a rua, molduras de massa nas portas e janelas e lambrequins nos beirais.
 



Estação de Tiradentes foto de 1920, ainda com os lambrequins na empena do telhado principal
No Largo das Forras existiu uma curiosa construção dos anos 1920/1930 em terreno originalmente logradouro público, onde hoje é a Pousada do Largo, n° 48. A casa tinha um curioso jogo de águas de telhado e portas e janelas em arco pleno. Inicialmente propriedade de Francisco Araújo Lima, depois Domingos Longatti e ultimamente passou à Lourenço Firmino de Campos quando foi reformada e o telhado foi refeito em duas aguas. Mas de qualquer maneira a construção tinha influência do ecletismo.

Entre 1938 e 1942 foi construída uma casa de Teófilo Reis na atual Rua dos Inconfidentes n° 211 cuja fachada de influência eclética e de gosto popular foi pintada de verde e amarelo como a bandeira do Brasil. Duas janelas com molduras de massa e caixilhos de grandes vidros preenchem a frente. A porta de entrada é lateral precedida de alpendre.

Sob as janelas há uma grande almofada de massa. Dois cunhais sustentam uma cimalha estreita perfilada e frontão em dois semicírculos com relevos de leques encimados por agulhas de cerâmica. No centro do frontão há uma peanha e coifa metálica onde havia a figura de cerâmica de um índio ligado a Umbanda e sobre a entrada do alpendre nicho com as figuras de Pai João e Mãe Maria, também da Umbanda. As iniciais do proprietário e as datas estão em relevo no frontão, como divisa “Vila fé em Deus”. Esta casa de gosto popular se manteve integra externamente, com exceção das figuras de umbanda, desaparecidas.
Sobrevive ainda na rua Antônio Teixeira de Carvalho n° 113 a casa construída por Joao Gonçalves de Moura, nos anos 1930, do tipo bangalô, com empena simples, alpendre embutido no corpo da construção. O muro baixo com faixas em relevo dão charme a construção, com pequeno jardim à entrada.

Na cidade não existe e parece que não existiu construções de gasto “art décor” com exceção de duas sepulturas no cemitério da Matriz, da família de José Cândido da Silva. Houve ainda um pequeno portão de ferro n primeira casa da Rua Silvio de Vasconsellos, pertencente ao Antônio Gonzaga Teixeira (o Canarinho) hoje de Eros Grau. O portão foi retirado e está desaparecido.
 


Um curioso exemplar de arquitetura popular modernista sobrevive na rua dos Inconfidentes n° 317, de Nilber Barbosa. A fachada com colunas copiadas dos palácios de Brasília, grandes panos de vidro e telhado de laje plana, com platibanda em ângulo central que remete a linguagem modernista e incorpora revestimento em pedra da Serra de São José, muito usada nos anos 1960 e 1970, para revestimento decorativo.
Fora do núcleo urbano podemos citar a estação de trem de Cezar de Pina e as casinhas adjacentes, a primeira construída em 1923, no eclético típico das estações. Existiu ainda a bela estaçãozinha de Águas Santas, demolida em 1966, que tinha empenas de ferro ou madeira recortada e paredes de “enxaimel”.
  


 

 
No mesmo povoado de Águas Santas duas construções de apuro ligam-se ao ecletismo: a capela de Nossa Senhora da Saúde inaugurada em 1915 e o prédio do balneário construído por volta de 1908/1910, com portadas em arcos de volta inteira. A capela está totalmente descaracterizada e o balneário foi demolido para construção de novo prédio na década de 1960.
 

Ainda na região da “Caixa d’água da Esperança” pode-se ver ainda a casa de David Silveira, com frontão eclético e cimalhas perfiladas. Ainda nessa região existiu o chalé da Baronesa de Santa Maria ou fazenda da Esperança, construído por volta de 1860/70 em estilo neoclássico/eclético, com fachada apresentando frontão triangular, três ou quatro janelas rasgadas com sacada entalada, entradas laterais com escadas de pedra e gradil de ferro. O embasamento era alto e casa possuía um pátio interno, do tipo jardim de inverno. Infelizmente a casa foi demolida no início da década 1980 e o material vendido, sobrevivendo apenas os alicerces. Enfim há ainda alguns exemplos de inicio do século XX, tanto nas Águas Santas quanto na zona rural do município.



20.4.17

Ainda o Tiradentes

Olinto Rodrigues dos Santos Filho

Busto de Tiradentes de Alberto Delpino, 1884.
Óleo sobre cartão. Acervo do IHGT.

O dia 21 de abril marca a memória da morte por enforcamento de Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha ou apelido “O Tira-dentes”, como se escrevia no século XIX. A comemoração do 21 de abril vem de longa data na história do Brasil. Já em 1867 o governador da Província de Minas Gerais, Saldanha Marinho, mandou construir em Ouro Preto uma coluna em homenagem ao Tiradentes. Esse foi o primeiro monumento aos inconfidentes, ainda no segundo reinado. Em 1894, ela foi retirada para dar lugar ao monumento atual e andou perdida, até voltar para Ouro Preto e ser colocada na praça da Barra. 

No Rio de Janeiro, fez-se um movimento nos fins do século XIX para erguer uma estátua de Tiradentes, mas não saiu na época. A campanha republicana que contava com intelectuais e jornalistas adeptos ao positivismo reergueu a imagem do Tiradentes como mártir e o elevou-o a símbolo da república. Silva Jardim, que sugeriu a troca do nome de São José del Rei para Tiradentes, em 1889 fez discurso sobre a figura do Tiradentes, publicada em opúsculo em 1890. 

Em 1872 chegou-se a publicar um manifesto ao povo brasileiro pelo Dr. Pedro Bandeira de Gouveia, conclamando a fazer uma subscrição popular para ereção de uma estátua do Tiradentes. 

 Nas comemorações do Centenário de Morte de Tiradentes, o Clube Tiradentes promoveu várias comemorações, inclusive uma procissão cívica com o busto do herói levando em andor. Como não havia retrato do mártir a ideia foi liga-lo a figura do Messias, surgindo daí a representação de Tiradentes identificado com Cristo, com longa cabeleira e barba desgrenhada. A representação no patíbulo, esquartejado de Victor Meirelles lembra a cena do Calvário. 

Na cidade de São José del Rei, desde a década de 1880, se fazia sessões cívicas, conferências e visitas a Casa do Padre Toledo, que acreditava-se à época ser do próprio Tiradentes. Por volta de 1889 foi localizado o inventário dos bens dos pais do Tiradentes, no cartório local, documento esse que foi entregue ao Dr. Sampaio Ferraz pelo maestro e compositor Francisco de Paula Villela e depois doado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde se encontra. 
Poesia copiada por Dulce Fonseca para o
uso de seus alunos no Grupo Escolar.

livro que pertenceu a Professora Dulce Fonseca, 1917,
usado no Grupo Escolar de Tiradentes para os auditórios.
Em 1892, quando se comemorou os 100 anos de morte do Alferes Tiradentes, foi montada uma “Sociedade Comemorativa do Centenário de Tiradentes”, com muitos sócios contribuintes, presidida pelo comendador Carlos José de Assis (1825-1893) que promoveu grandes comemorações à época com missa de réquiem na Matriz, sessão cívica, procissão cívica, etc. Nesta época se construiu uma coluna em homenagem ao Tiradentes no Largo da Independência, hoje Largo das Forras. Ainda lá se encontra o monumento tombado pelo município, com sua lápide escrita em língua latina. Era nesse monumento que se comemorava o 21 de abril, com os alunos das escolas, depois do grupo escolar e as conferências eram na Casa do Padre Toledo, então sede da prefeitura e câmara. 

Termo de abertura do livro de contas da Sociedade Comemorativa do
Centenário do Tiradentes, assinado pelo Comendador Assis
e datado de 02 de fevereiro de 1892. Acervo do IHGT.

Só a partir de 1962 quando instalado o busto de Tiradentes no Largo do Sol é que pra lá se deslocaram as comemorações. O busto foi esculpido pelo artista José Morais, que veio para a cidade para restaurar a talha e pintura da Igreja Matriz em 1961/1962. Havia na época sessão cívica, desfile das escolas e outras solenidades. A partir do Governo de Israel Pinheiro a “Semana da Inconfidência” tinha início em Tiradentes, com o acontecimento Pira da Liberdade, cerimônia essa que foi suprimida pelo governador Aécio Neves da Cunha. Hoje as comemorações do 21 de abril tem sido muito pálidas e sem entusiasmo. 

Protótipo do busto de Tiradentes, esculpido por
José Morais, colocado na Praça D. Delfim Ribeiro Guedes,
hoje Largo do Sol, atualmente no largo da Câmara.

A figura do Tiradentes foi usada por todos os movimentos políticos, tanto de esquerda quanto de direita, assim como por várias instituições. É patrono da Polícia Militar de Minas. É cultuado pela maçonaria. Na ditadura militar foi decretado patrono cívico da nação brasileira, em 1965. O feriado do 21 de abril já havia sido criado por lei em 1949 e 1950. Todos os políticos gostam de usar a figura ímpar do altaneiro Alferes, que hoje deveria ser exemplo para nossos políticos corruptos. Juscelino Kubistchek criou a medalha da Inconfidência e inaugurou Brasília no dia 21 de abril. Tancredo usou o nome do herói em sua campanha e em seus discursos, e fizeram-no morrer no 21 de abril. Itamar Franco mandou por seu busto no Palácio do Planalto. E quem mais irá usá-lo? 

Que a figura altaneira, idealista, sem medo e grande propagador das ideias libertárias possa de fato ser exemplo para nossos governantes nestes tempos tenebrosos de falta de amor à pátria e a coisa pública que vivemos. 

 Vale ainda lembrar que, em 1992, no bicentenário de morte do herói, a cidade de Tiradentes saiu na frente com grandes comemorações naquele 21 de abril, em que Fernando Collor de Mello expropriava o estado e o povo brasileiro. Quem veio à Tiradentes foi seu vice, Itamar, mineiro sério e patriota. Lembro ainda que Joaquim José nasceu na margem direita do Rio das Mortes, no Pombal, então distrito da Vila de São José, onde viveu até os 20 anos de idade. Seu avô, Domingos Xavier Fernandes era homem público já em 1718, pois foi o primeiro tesoureiro da câmara da Vila de São José. Antônia da Encarnação, mãe do Alferes, nasceu na Vila de São José del Rei, em 1721, tendo sida batizada na Matriz de Santo Antônio e lá mesmo se casou em 1738 com o português Domingos da Silva dos Santos, que exerceu a vereança por um biênio (1755-1756), além de ter sido Almotacel, ou seja, cobrador de impostos. O avô e o pai foram irmãos da Irmandade do Bom Jesus dos Passos. O casal Domingos e Antônia tinham duas casas no centro da vila para frequentarem a igreja aos domingos, como consta no inventário deus bens. Enfim, toda a ligação da família do Tiradentes era com a Vila de São José e nada mais justo foi ter dado o nome do herói a esta cidade, berço da liberdade brasileira. 

No dia 21 de abril de 2017, o IHGT fará Sessão Solene em homenagem ao Tiradentes, no Sobrado Ramalho, às 18 horas.

Coluna em homenagem ao Centenário de Morte do Tiradentes
erigida em 1892 na Praça da Independência, atual Largo das Forras,
tendo sobre a Coluna um busto do Tiradentes, em cimento, feito por
Antônio Ferreira Gomes, em 1934. Encontra-se em posse da Prefeitura.