16.10.12

Maestro Joaquim Ramalho 1879 - 1963

Joaquim Ramalho com cerca de 20 anos.
Filho de Josefina Ferreira Barbosa Ramalho (1843-1925) e de José Luiz Ramalho (1840-1900), nasceu o maestro Joaquim Ramalho em 1879. Ainda jovem, assumiu o orquestra sacra deixada pelo pai, falecido em 3 de março de 1900. Foi durante o longo tempo em que passou a frente da orquestra (1900-1963), que ela passou a ser chamada Orquestra Ramalho, nos anos de 1930.

Joaquim Ramalho, além de músico, exerceu as funções de coletor federal e manteve uma exploração de areia quartiztica no sopé da Serra São José, que vinha no lombo de burro até os terrenos de secagem no “Barracão da Areia”, no sopé do Morro de São Francisco, onde hoje é a Praça Silva Jardim ou da Rodoviária. Outra atividade exercida por ele foi o corte e venda de lenha a metro, retirada nos seus terrenos, em uma época que ainda não havia distribuição de gás.

Joaquim Ramalho, de perfil, atrás, em 1922. 

Homem muito respeitado na cidade, fazia parte de todas as promoções culturais e religiosas de Tiradentes. Como músico, tocava contrabaixo e cantava com sua forte voz de baixo, além de reger a orquestra. Alguns solos eram a ele reservado, como o “VeniCreatorSpiritus”, que era entoado na missa do domingo da Santíssima Trindade, antes do sermão, como solo ao pregador. Joaquim Ramalho era um entusiasta da história de Tiradentes e seu patrimônio. Guardava documentos, publicações e objetos diversos ligados a história local. Foi por sua intervenção que foi reeditado, em 1955, o livro de Herculano Veloso “Ligeiras Memórias sobre a Vila de São José e seu termo, nos tempos coloniais”. 

Quando aqui aportou o maestro e compositor francês Fernand Jouteux, foi Joaquim Ramalho que o acolheu, cedendo uma de suas casas na Rua Direita, onde antes fora uma oficina de ourives de Galdino Rocha, para o maestro morar com a esposa, MagdaleineJouteux, aqui falecida em 1952. Guardou também o acervo de Jouteux que, após sua morte, foi doado ao IHGT de Tiradentes, por seu filho Joaquim Ramalho Filho.


Joaquim Ramalho, ao centro (primeiro homem sentado), com a Orquestra da Semana Santa, em Rio Branco-MG, 1921.

Em uma época de extrema decadência, o Ramalho foi adquirindo várias casas no centro antigo da Cidade e fazendo sua conservação, salvando assim um valioso patrimônio arquitetônico. A ele pertenceu, além do Sobrado Ramalho, o dos Quatro Cantos, o de Antônio de Pádua Falcão, na Rua da Câmara, onde funciona o antiquário “Nobre Decadência”, a casa de janela de Treliça da Rua Direita, nº 57,a casa nº 136, a antiga venda dos Quatro Cantos,  a casa nº 108 na Rua da Câmara, a casa nº 96 da Rua Padre Toledo, uma casa na Rua Henrique Diniz, uma casa na esquina da Rua Jogo de Bola com largo do sol e a antiga casa de seu avô, Silvestre Barbosa, na mesma rua, número 67.

Além destas e outras casas, possuía o referido barracão de Areia, com um pequeno bangalô, hoje terminal rodoviário, um terreno no brechó e toda a área do mangue e cachoeira, adquirida posteriormente pela Sociedade de Amigos de Tiradentes (SAT) para a instalação de um parque ecológico, não implantado.

Em 1957, recebeu em sua casa o musicólogo Francisco Curt Lang, que entre as peças, levou alguns originais de obras do compositor Manoel Dias de Oliveira, hoje no arquivo do Museu da Inconfidência.

Apesar de muito amigo do Padre José Bernardino de Siqueira, contam que o maestro teve alguns atritos com ele. Um dos mais curiosos, que foi contado por Joaquimzinho. O padre mandou retirar em surdina, durante a noite, as pedras que os homens se sentavam a noite, nos quatro cantos, diante do sobrado, com a alegação de que os homens ficavam a falar mal dos outros. No dia seguinte, o maestro mandou buscar outras pedras e assentá-las com cimento, no mesmo local, e desafiou o vigário a tirá-las, o que ele, logicamente, não fez.


1949, aniversário de Emídio Moraes, na Colônia do Bengo.

A Orquestra Ramalho, durante mais de cem anos, participou de todas as solenidades religiosas, civis e festas de Tiradentes. Em 1922, houve um desentendimento entre o maestro Ramalho e o maestro Antônio de Pádua Falcão, ocasionado pela campanha presidencial em que cada um ficou de um lado. A desavença culminou com Falcão saindo da Orquestra com toda sua família, e montando outra, ficando a Orquestra Ramalho desfalcada, tendo que colocar todos os filhos para tocar.

Entre as curiosidades que se conta é que a Orquestra Ramalho ficou com a Festa de Nosso Senhor dos Passos e a de Falcão com a Festa de Nossa Senhora das Dores.

O velho maestro Joaquim Ramalho morreu em 1963, após longa doença, depois de anos dedicado à música e a cidade de Tiradentes.

Joaquim Ramalho foi casado em primeiras núpcias com Adelina Costa Ramalho, com quem teve os filhos João Batista Ramalho, Vicente Paula Ramalho, Waldomiro Ramalho, José Luiz Ramalho, Joaquim Ramalho Filho, Germana Ramalho Moura e Josefina Ramalho do Nascimento (sinhá). 

Casou-se em segundas núpcias com Ana Ladeira Ramalho, com quem não teve filhos. 


1954, com o musicólogo Francisco Curt Lang.

Texto do sócio Olinto Rodrigues dos Santos Filho.




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